Jamie Dornan, estrela de Wild Mountain Thyme, se abriu para o Observer.

Depois de interpretar homens obscuros boa parte da década passada, Jamie Dornan estava a procura de um papel que reconhecidamente destingiria ele de seu notório papel do bilionário Christian Grey, na franquia de Cinquenta Tons e o assassino em série Paul Spector em The Fall. Para sua surpresa, ele encontrou exatamente o que estava procurando na charmosa adaptação do filme Wild Mountain Thyme, de John Patrick Shanley, dramaturgo que chegou a Broadway com a peça Irlandesa-Americana Outside Mullingar.

Gravado no verde exuberante do interior irlandês, Dornan interpreta Anthony Reilly, um fazendeiro afetuosamente esquisito no meio dos seus 30 anos que permanece absorto as investidas de sua vizinha linda e cabeça dura, Rosemary Muldoon (Emily Blunt), por quase três décadas. Quando seu pai Tony (Christopher Walken), anuncia seu plano de venter a fazenda da família para seu primeiro americano tudo Adam (Jon Hamm), Anthony se vê forçado a confrontar um segredo profundo e obscuro de sua infância que vai mudar de uma vez por todas o curso de sua vida — e seu relacionamento com Rosemary.

Depois de perder a oportunidade de assistir a peça durante sua estreia principal na Big Apple, Dornan recebeu o roteiro para Wild Mountain Thyme em 2018 e se jogou na chance de trabalhar com Shanley, quem ele considera “um titã da nossa indústria” com “esse lindíssimo aspecto sereno”.

“Foi essa coisa estranha onde eu recebi o roteiro e eu meio que li falando, ‘Essa é uma das coisas mais loucas que eu já li. Eu acho que eu amo, e eu definitivamente quero participar’,” conta Dornan ao Observer pelo telefone, de sua casa no interior da Inglaterra, onde tem passado a maior parte da pandemia com sua esposa, a compositora Amelia Warner e suas três filhas pequenas.

“Shanley e Eu tivemos uma ligação [dois dias depois] de sete minutos — foi insanamente rápida — e basicamente, ele perguntou ‘Você quer fazer?’ E eu, ‘Sim!’. Mas depois demorou cerca de um ano antes que eu chegasse a fazer o filme de verdade, e eu conversei com ele obviamente mais do que esses sete minutos iniciais. Parece que foi há muito tempo desde que eu tive a primeira conversa com ele.”

Em nossa entrevista, Dornan fala abertamente sobre a oportunidade única de trabalhar com um elenco de peso na área rural da Irlanda, o envolvimento de sua esposa no projeto, e a crítica que o filme tem recebido por sua representação do sotaque irlandês.

Observer: Wild Mountain Thyme é uma das produções mais excêntricas que eu vi nas telonas nos anos recentes. O que no roteiro de John Patrick Shanley te fez tão propenso a se jogar a bordo a primeira vez quando ele te ofereceu o papel?

Jamie Dornan: Bem, foi uma daquelas coisas onde eu sou um fa dele e eu amo o jeito como ele escreve, eu acho que sua escrita é um tanto peculiar. Ha diferentes personagens que você não vê frequentemente em filmes importantes, particularmente em qualquer tipo de romance, e isso me intrigou de verdade.

As palavras são tão bonitas, e eles quase conversam em versos um com o outro, particularmente naquela cena de 25 páginas que [Blunt e eu] gravamos na cozinha. Eu nunca falei daquele jeito em um filme; eu nunca vi algo daquele tipo escrito em um roteiro. Aquilo foi divertido. Como um ator, você está a procura de palavras bonitas a serem ditas e isso não acontece sempre, e as vezes você está falando palavras que você na verdade não queria estar falando. Quando uma oportunidade de falar palavras daquele jeito, que são tão poéticas, eu me joguei na oportunidade.

Observer: Voce mencionou em entrevistas passada que Anthony é provavelmente o personagem mais puro que você já interpretou, com todas suas peculiaridades. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou quando aproximou-se desse papel e como se preparou para retratar alguém que requer tanta vulnerabilidade?

Jamie: Tem muito de lentamente ir entrando em sua própria vulnerabilidade. Muito de ir descamando suas próprias inseguranças e tentando deixá-las a amostra e deixá-las serem incorporadas em um outro alguém. Anthony simplesmente apresentou essa oportunidade de expor um pouco da minha própria falta de crença em mim mesmo ou qualquer tipo de tendências estranhas ou esquisitices que eu mesmo tenho, e eu pude colocá-las nele e aperfeiçoa-las uma vez que elas já estavam nele, se é que você me entende.

Eu amei essa oportunidade porque eu simplesmente não havia interpretado alguém como aquele. Eu interpretei muito personagens que estão no controle, seja Christian Grey [na franquia de Fifty Shades] ou Paul Spector em The Fall ou até mesmo Paul Conroy em A Private War, que sabe muito bem o que quer. Isso é o que estou acostumado, e na realidade, Anthony está muito mais próximo de mim que não parece estar sempre no controle o tempo todo. (Risos) Eu sempre finjo que estou. Eu tenho três crianças pequenas e eu sempre estou fingindo que sou um adulto e que sei o que está acontecendo, mas na maior parte do tempo eu não sei e estou aéreo. Então foi legal que eu pude soltar tudo das minhas próprias peculiaridades em alguém.

Observer: Na semana passada, eu comecei a ouvir sobre esse ‘suco da atuação’ que você começou a beber religiosamente com Emily Blunt. Vocês tinham algum ritual antigo no set antes desse filme e esse ‘suco da atuação’ vai continuar em suas novas produções?

Jamie: (risos.) Sabe, não sou supersticioso a esse ponto. Eu me preparo para gravar e depois nós gravamos — é assim que funciona — e normalmente eu não tenho influências externas fora isso. Mas de repente, eu tinha essa influência altamente cafeinada. Eu não sabia o que tava acontecendo.

Observer: Podemos saber o nome dessa misteriosa bebida?

Jamie: Na realidade, é um desastre porque eu deveria estar agradecendo a eles. Eu nem sei como aquele negócio se chama.

Observer: Você não sabe?!

Jamie: “Terei que perguntar a Emily o nome, e ela provavelmente ainda tem muito dele. Seu apartamento em Nova Iorque tem uma parede ou uma pilha dele, e ela foi apresentada a bebida por Dwayne Johnson… Eles tinham acabado de trabalhar juntos [ em Jungle Cruise] e ele mandou pra ela alguns ou algo to tipo — eu não sei, mas ela tinha um bocado dele.
Eu não sei como é o sentimento de um ataque do coração, mas eu sinto que essa bebida te faz sentir como se quase estivesse tendo um.

De uma forma estranha, as vezes isso é apropriado para algumas das cenas que estávamos fazendo e as vezes nem um pouco. Mas as vezes, foi bom chegar a aquele lugar. (Risos) Nos estávamos chamando de ‘suco da atuação’ e eu meio que me convenci de que eu nunca mais poderia atuar novamente sem aquele negócio, mas eu consegui gravar um filme durante a quarentena com Kenneth Branagh [um filme autobiográfico escrito e dirigido por ele, chamado Belfast], e eu não tive qualquer ‘suco da atuação’ e deu tudo certo. Então, por sorte, eu não estou dependente dele.

Observer: Falando em Emily, eu sei que certos membros de suas famílias são muito próximos, mas sei que vocês ficaram próximos também. Qual foi seu maior aprendizado de ter trabalhado com alguém tão talentosa como ela?

Jamie: Emily simplesmente tem tudo. Ela é obviamente uma garota linda, mas ela tem essa carreira incrível de trabalhos variados. Ela arrasou em uns dos grandes musicais da Disney, ela é a porra da Mary Poppins, não tem como crescer mais que isso. Mas depois ela fez coisas corajosas e, mais cedo em sua carreira, muitos filmes ingleses independentes, e alguns de seus melhores trabalhos estão aí.

Ela meio que fez de tudo e é na realidade a pessoa mais tranquila, mais engraçada para se estar junto. Ela é uma daquelas pessoas que você quer rir junto e é muito fácil de fazer dar risada. Nós tivemos uma conexão absoluta fazendo esse filme, e nós nos divertimos muito, muito mesmo — não só Emily e eu, mas todo elenco e equipe. Foi uma experiência brilhante.

Observer: Gostaria de trabalhar novamente juntos em um filme talvez mais dramático, no futuro?

Jamie: Sim, definitivamente. Nós falamos sobre isso e como seria muito legal de fazer algo juntos novamente, então eu acho que se a oportunidade aparecer, ambos seríamos perspicazes. Então, vamos ver…

Observer: Esse filme foi verdadeiramente transformado em algo familiar, como sua esposa, Amelia, que também compôs a trilha sonora encantadora. Quando você descobriu que ela também estaria envolvida nesse projetado e o quão ótimo tem sido vê-la florescer como compositora?

Jamie: É incrível. Digo, antes de conhecê-la, ela era uma atriz, mas ela tem feito músicas para filmes pelos últimos quatro anos ou coisa do tipo. Ela é relativamente nova nisso; esse é apenas o terceiro filme que ela fez. Mas o último que ela fez, Mary Shelley, ela recebeu muita atenção e sua trilha é linda.

Foi legal porque ela meio que foi arremessada por isso da forma como seria com qualquer coisa outra coisa. Seus agentes a coloram pra ir atrás, e eles na verdade foram em uma direção diferente [de primeira], sendo honesto. Estávamos em atraso com outra pessoa, e depois, aquilo acabou não dando certo. E voltou para ela novamente, então é esse volta doida que meio que aconteceu. Compositores são sempre a última peça do jogo, ou eles entram geralmente na 95% do tempo. Então, quando ela entrou, nós obviamente já tínhamos gravado. Eles não deram a ela muito tempo, e eu acredito que ela arrasou em uma performance extremamente excelente.

Estou tão orgulhoso dela, e é tão legal que pudemos inadvertidamente trabalhar juntos, mesmo não sendo no dia-a-dia, em um set. Mas ainda assim ela vendo minha cara o dia todo e tendo que escrever música para ela e depois tendo que lidar comigo na vida real, foi muito legal. (Risos)

Observer: Numa adição a Emily, você também teve cenas estonteantes com Christopher Walken, especialmente aquela cena agridoce no meio do filme. Você pode falar um pouco sobre a experiência de trabalhar com ele e suas melhores memórias daquele dia emocionante no set?

Jamie: Chris é simplesmente uma lenda absolutamente no jogo. Ele é um dos atores mais personificados no mundo, mas a realidade é que ele é simplesmente essa doce, gentil alma. Eu acredito que Emily e eu e todos nos apaixonamos por ele. Ele é brilhante. Ele não fala muito, mas então quando ele fala, ele dirá absolutas preciosidades a você. Ele é direto quando ele tem tempo de dizer algo a você. Tenho que dizer que aquela cena onde ele meio que está em seu leito de morte, aquela foi a última cena de Chris, e esse foi seu último dia gravando o filme.

Eu, honestamente, não conseguia me segurar naquele dia. Eu chorei o dia todo. Ele estava quebrando meu coração da forma como ele estava atuando naquela cena. Eu estava falando com alguém que tinha visto o filme — uma amiga minha que estava me entrevistando — e eu contei, ‘Eu estive chorando o dia todo’. E ela disse, ‘Eu sei, sua cara tava toda inchada e você parecia cansado e todo vermelho.’ (Risos) E eu tipo, ‘Eu sei porque eles vieram para minha parte por último!’ nos queria começar com a parte do Chris e quando eles vieram pra mim, eu na verdade tava acabado. Eu estava tão abatido, mas novamente, eu não conseguia parar de chorar. Nós poderíamos ter gravado aquela cena todos os dias por uma semana e eu teria chorado todo dia. Foi de partir o coração, mas uma experiência tão legal.

Observer: Esse filme também recebeu, o que me parece ser, algumas críticas muito severas pela interpretação de sotaques. Como você lida com esse tipo de criticismo antes de uma grande estreia? Há alguma coisa que gostaria de dizer em resposta a todos esses pessimistas?

Jamie: Eu sou da Irlanda, e nós somos [estereotipados como] uma nação de figuras piadistas — meio que é a nossa moeda de identificação — e isso vem juntamente com território. Aquilo era de se esperar, eu entendimento daquilo, mas tínhamos John Patrick Shanley de quem os personagens eram vagamente baseados em sua família de verdade. Eles disseram que se soássemos como eles soavam de verdade, ninguém teria nos entendido.

Não fizemos esse filme para pessoas irlandesas. É um filme que queremos que seja visto ao redor do mundo, então tivemos que achar algo que funcionasse e soasse exatamente como eles estavam tentando soar. É apenas um tipo de sotaque Irlandês que não tem nada a ver como as pessoas de Dublin falam, nada a ver com pessoa de Belfast que é de onde eu sou, nada como as pessoas que são de Cork — é muito algo próprio. Eu fico do lado [do fato] que nós soamos como queríamos, e claro, se as pessoas vão ter algo a dizer, tudo bem. Tenho certeza que eu diria também, mas apenas vem da localização.

Fonte: Observer, Dezembro 2020.

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